PARTES E FUNÇÕES DA BOQUILHA 3/3

maio 14, 2016 Boquilhasvillamur 11 Comments

CONCLUINDO ESTE ASSUNTO, VAMOS DISCORRER SOBRE AS ÚLTIMAS E MAIS RELEVANTES PARTES DA BOQUILHA.

TIP OPENING (ABERTURA DA PONTA)


Abertura da ponta é a distância entre a palheta e o trilho da ponta (tip rail). Essa distância pode ser medida por polegadas por exemplo .105" ou 2,67mm e no caso da Otto Link 7* (sete e meio) para sax tenor.
Quando digo Otto Link (mais conhecida) quero dizer que outras marcas tem números diferentes que correspondem a esta mesma medida, ou seja 7* da Otto Link (tenor) é 9 na Beechler, é 6*3 na Lakey, é 8 na Meyer metal, é 6* na Ria, é 6 na Rousseau JDX, é H na Selmer, é T75 na Vandoren.
Portanto, minha sugestão é que depois de identificada a sua abertura de conforto, use a unidade milímetro ou polegada porque números ou letras só vão confundir.
Aberturas maiores exigem mais ar para vibrar a palheta e combinam com palhetas mais suaves. Aberturas menores exigem menos ar para vibrar a palheta e combinam com palhetas mais rígidas.
Com pequenas aberturas as notas agudas ou sopro forte tendem a fechar a palheta e se você compensar com palheta mais rígida, vai dificultar a emissão e o controle das notas graves.
Entendo que a melhor opção seria uma abertura meio aberta com palheta meio dura, isso facilitaria a emissão e o controle das notas em toda extensão.
Tendo como referência diversos músicos, percebi que a maioria utiliza um intervalo de abertura variando de 7 a 9 conforme tabela abaixo.

Entendo que o músico deve encontrar uma relação entre abertura da boquilha e rigidez da palheta que seja confortável para seu sopro, sem exigir grandes esforços ou contenções para tocar. 

TIP THICKNESS (ESPESSURA DA PONTA)


É a espessura da parte frontal da boquilha, sua espessura está correlacionada com a espessura do trilho da ponta (tip rail) e com a espessura da ponta da rampa (ramp tip)
Se for muito fino o som tende a chiar e se for muito grosso tende a conter o som.

BEAK (BICO)


Bico é a parte frontal externa superior da boquilha que sobe da ponta ao corpo da boquilha formando uma rampa, é envolvida pela boca e lábios enquanto você toca.
Essa rampa deve ter um angulo de elevação adequado para a embocadura ser eficiente nas notas graves e agudas. 
Embora seja uma escolha pessoal tenho percebido que a maioria dos músicos prefere essa rampa com um angulo em torno de 19º.
Não menos importante é a curvatura transversal que será incômoda ser for muito reta ou muito angulada.

FACING (FACE)

Vamos utilizar a figura acima e começar falando do facing (face)
A face á toda a parte frontal da boquilha que contém a mesa (table) e a curva de face (facing curve), o comprimento da curva da curva é que chamamos de facing length (comprimento da curva).

FACING CURVE (CURVA DE FACE)
Uma das mais importante partes da boquilha, é uma curva contínua e gradual que deve obedecer princípios e fórmulas matemáticas de geometria analítica, álgebra e trigonometria, é a face onde a palheta vibra contra ela.
Começa onde termina a mesa (table) sobre os trilhos laterais (side rails) se estende e se une ao trilho da ponta (tip rail).
Tem muita variação entre os fabricantes, principalmente pelas diversas opções possíveis.

A curva de face (facing curve) é responsável pela qualidade da performance e desempenho da palheta ao tocar.

POR SER UM ASSUNTO DE ALTA IMPORTÂNCIA VAMOS DETALHAR UM POUCO MAIS ESTA MATÉRIA.

A curva da face (facing curve) está diretamente relacionada com a abertura da ponta (tip opening) portanto, cada medida de abertura da ponta tem sua curva específica.


É muito importante que a curva se estenda igualmente/simetricamente nos dois trilhos laterais (side rails) essa igualdade é medida e verificada comumente em em 5 pontos do início ao final da curva.

São usados basicamente dois tipos de curvas na boquilha de sax, a RADIAL e a ELÍPTICA, o desenho abaixo mostra uma boquilha com a ponta (tip) para baixo e uma representação sem escala para facilitar o entendimento de como se encaixaria uma curva radial ou uma elíptica na curva de face (facing curve) da boquilha.
Não vou entrar no mérito de fórmulas, somente vou elucidar o conceito. 
Em função da abertura de ponta (tip opening) e do comprimento da face (facing length) vai existir um arco de circunferência de raio R que vai iniciar na ponta (tip) e tangenciar a mesa (table) isso é uma curva de face (facing curve) RADIAL, a alteração de uma ou das duas medidas citadas vai gerar um novo raio R e consequentemente um novo arco de circunferência.
Conclui-se que cada abertura de ponta (tip opening) combinada com um comprimento de face (facing length) terá sua curva específica, isto se aplica a todos os tipos de sax.

O mesmo conceito é utilizado para curva elíptica, só que com dois complicadores a mais, o primeiro é que a elipse possui dois raios R1 e R2 e diferentemente da circunferência onde todos os arcos são iguais, os arcos da elipse são diferentes uns dos outros e não são uniformes na sua extensão, então no caso da utilização de um arco de elipse na curva de face de uma boquilha temos que determinar o ponto de início do arco e para que lado vamos com esse arco, assim teremos uma curva ELÍPTICA.

CONCLUSÃO

A curva RADIAL sempre foi usada desde o início do sax e proporciona um sopro livre e despretensioso, podemos dizer que é muito boa e simples.

A curva ELÍPTICA por não ser uniforme na sua extensão oferece a possibilidade de termos uma curvatura mais acentuada próximo ao trilho da ponta (tip rail) favorecendo assim a emissão de de notas altas e altíssimas e uma curvatura mais suave no tangenciamento da mesa, não desfavorecendo dessa forma a emissão de notas graves e subtons.
Proposta que vai de encontro a tendências sonoras mais modernas e considerada por muitos como mágica.

PARABÓLICA é a curva bastante utilizada em boquilhas de clarinete, na verdade considerando o pequeno comprimento utilizado, vai ter um efeito bem semelhante a uma curva Radial.

Tendo como premissa no meu trabalho, oferecer uma boquilha com sopro livre, resistência adequada e com toque moderno, utilizo parâmetros nos meus programas para que seja indicada a curva ideal, ELÍPTICA ou RADIAL, conforme a característica pessoal de cada músico.


FACING LENGTH (COMPRIMENTO DA CURVA)

O comprimento da curva pode ser curto (short), médio (medium) ou longo (long), embora existam esses três parâmetros podemos ter medidas alternativas como medium short (médio curto), medium long (médio longo), extra long (super longo) ou extra short (super curto).
O comprimento da curva influi num sopro mais livre ou mais resistente como também no tipo de resposta da boquilha quanto a médios graves e agudos.

FACE CURTA (SHORT FACING) 

Este comprimento vai priorizar as notas agudas fazendo com que sejam respondidas com facilidade, em contrapartida vai dificultar a emissão de graves e subtons, pois reduz a área de vibração da palheta mais para a ponta e limita a expansão do som.
Dificulta o controle da emissão, como também pode estrangular a passagem do ar se a boquilha uma possui rampa muito alta.

FACE LONGA (LONG FACING) 

Este comprimento vai dar prioridade as notas graves e subtons, o som fica mais opulento e expansivo em toda extensão do sax, dá uma sensação abertura maior, produz um som vintage com resistência e controle, é aconselhável em boquilhas com rampa muito alta.
Dificulta uma resposta rápida e super agudos.

FACE MÉDIA (MEDIUM FACING) 

Este comprimento é intermediário entre os dois anteriores e é o mais usado entre os fabricantes de boquilhas e músicos, oferece resposta rápida em toda extensão, mais opções de palhetas, maior controle, maior versatilidade e facilidade de emissão.

Muitos músicos optam por medidas levemente maiores ou menores à da FACE MÉDIA (MEDIUM FACING) criando alternativas adequadas às suas embocaduras e seus objetivos de timbre, sendo elas, médio longa ou médio curta (medium long or medium short).

BAFFLE (DEFLETOR)

O defletor (baffle) é a parte interna que começa na ponta (Tip) e se estende para dentro da boquilha com comprimentos e formas que variam, como vamos esclarecer a seguir
Pode ser considerado uma das partes mais importantes da boquilha é onde o som tem origem.
A diferença básica do som vem do defletor, som escuro, som brilhante, som projetado, som contido, etc, se for tocar jazz, rock ou clássico as diferenças de tonalidade são criadas no defletor.
As formas do defletor são as que determinam essas variedades sonoras e têm basicamente quatro formatos.
Nas figuras abaixo os baffles (defletores) estão indicados em vermelho.



STRAIGHT (RETO)

Estende-se reto e baixo da ponta para a câmara, é considerado um dos primeiros formatos de defletor, é usado com pequenas aberturas e câmaras grandes tem som consistente em todos os registros e tende a um som escuro.
Favorece músicos que sopram forte, melhorando o brilho, foi usado nos anos iniciais do sax é bastante utilizado em boquilhas de clarinete.

ROLLOVER (ROLADO)

É localizado da ponta para dentro, é convexo, alto e curto,
geralmente utilizado em boquilhas com câmaras medias ou grandes proporciona um brilho sem perder os tons graves da câmara.
A construção do rollover é uma arte difícil de executar e pode dar um resultado oposto ao esperado, para o melhor resultado sua forma tem que ser compatível com o projeto interior da boquilha.
Um rollover bem implantado vai propiciar um som com mais brilho, cor, ataque e projeção.
É o carro chefe do sucesso das boquilhas Otto Link e Meyer.
Podem ter aparências diferentes conforme fotos abaixo  






STEP (RAMPA)

É uma rampa alta que parte da ponta (tip rail) e se estende em direção ao fundo da boquilha, forma uma quina e cai para a câmara.
Essa rampa pode ter diversas alturas e comprimentos.
Proporciona um som brilhante e é o que mais projeta o som comparado aos demais defletores, permite utilização de aberturas de ponta maiores sem perda do controle.
Em contrapartida de oferecer um som brilhante para agudos e médios e uma ótima projeção e profundidade, compromete o desempenho do som encorpado dos graves.
É característico nas boquilhas Dave Guardala, Vandoren Jumbo Java, Beechler, Arb etc. 

CONCAVE (CÔNCAVO)

Ao contrário do rolado (rollover) este defletor é formado por uma curva côncava a partir da ponta da boquilha que produz um som muito escuro, oco e sem projeção.
É uma boquilha rara de se encontrar.

ESCLARECIMENTO :

Um defletor (baffle) estriado não é um tipo de defletor, mas sim um acabamento do defletor, abaixo as imagens mostram uma Dukkof Fluted Chamber (1950) e uma Gary Sugal 



Essas estrias dão a entender que proporcionam um som mais focado e direcionado num momento que as boquilhas eram produzidas com câmaras grandes e o som era disperso, difuso.
O Gary Sugal talvez tenha tido o mesmo propósito de sugerir um direcionamento, uma profundidade do som.

CHAMBER (CÂMARA)

Antes de falar diretamente sobre as características dos tipos de câmara, gostaria de fazer uma menção de forma simples sobre o conceito da câmara da boquilha, utilizando o princípio do criador do sax, Adolph Sax.
Imaginem um prolongamento do tudel mantendo a forma cônica dele até um ponto final, esse volume faltante teoricamente deve ser compensado com a câmara da boquilha.
Por isso que na afinação, enfiamos ou puxamos a boquilha no tudel, para o ajuste desse volume faltante.


A câmara é a área da boquilha localizada antes do furo (bore) e dependendo do seu tamanho/formato proporcionam um som mais encorpado e difuso, na Grande (large), mais centrado,focado e direcionado na Média (medium), mais exprimido na Pequena (small) e muito exprimido na Extra Pequena (extra small).
Considero a parte mais estável da boquilha, pois geralmente alteramos a rigidez da palheta, abrimos ou fechamos a abertura da ponta, alteramos o defletor, mas dificilmente alteramos a câmara.


Conforme a figura acima podemos notar que a classificação é feita através da comparação com o furo (bore), se a câmara for maior que o furo então é Grande, se for igual ao furo é Média, se for menor que o furo é Pequena, e se for bem menor que o furo então é Extra Pequena.

Esses parâmetros são válidos para todos os tipos de sax.

Na boquilha de clarinete a câmara (chamber) é a continuação do furo (bore), que por princípio tem o mesmo diâmetro do furo do instrumento e termina na Garganta (throat).

É COM MUITA SATISFAÇÃO QUE CONCLUÍMOS ESTA MATÉRIA REFERENTE A PARTES E FUNÇÕES DA BOQUILHA, MESMO SENDO UM ASSUNTO UM TANTO TÉCNICO/TEÓRICO, ESPERO TER TRANSFERIDO AOS AMIGOS SAXOFONISTAS E CLARINETISTAS INFORMAÇÕES BÁSICAS E ESCLARECEDORAS SOBRE BOQUILHAS.

A PARTIR DAS PRÓXIMAS PUBLICAÇÕES VAMOS TRATAR DE ASSUNTOS MAIS OBJETIVOS, PRÁTICOS E DESCONTRAÍDOS.

AGRADEÇO A TODOS O CARINHO E ATENÇÃO AO BLOG.   
  

  











  



































11 comentários:

  1. Excelente conteúdo!!!
    Esclareceu todas as dúvidas que tinha sobre este tema tão polêmico.
    Meus parabéns pelo belíssimo trabalho.

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  2. Boa tarde Wagner, fico feliz por contribuir, abç

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  3. Artigo maravilhoso e de informações preciosíssimas. Parabéns pelo trabalho, Villamur.

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    1. Bom dia Fábio, fico feliz que tenha gostado, o objetivo é esse mesmo compartilhar conhecimentos para que o exercício da música seja mais completo e agradável.

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  4. Realmente perfeito esse material, estava procurando a tempo e hoje realmente consegui.... Parabéns Villamur.

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  5. é isso mano super maneiro na palavra

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  6. Exelente material. Mt esclarecedor, obrigado!!

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  7. Exelente material! Vou comprar uma boquilha e tenho um norte do que verificar nela. Seria interessnte um guia do q se verificar na hora de comprar uma boquilha e como fazer essa verificação. Muito obrigado!

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